quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Amamentando Gêmeos



Juliana Guimarães amamentando seus gêmeos Vinícius e Eduardo (Foto de Carol Dias)
Sempre que se pensa em gêmeos, a primeira idéia que aparece é a de trabalho e gasto dobrado. Sim, é verdade. Mas a experiência gera também prazer, felicidade e amor em dobro. “Após o susto inicial, começa um lindo caminho de parceria e, muitas vezes, com um vínculo e um apoio da família maior do que os de gestação única”, afirma o pediatra e homeopata Moises Chencinski. 

Boa vontade e leite materno com boa quantidade pode ser um bom começo. Porém é necessário mais. Até que uma rotina esteja estabelecida, essa mãe não poderá estar nunca sozinha. É necessário que a família dê o apoio e o suporte para que a mãe possa se dedicar mais à amamentação. E aí, o vínculo criado acaba sendo mais intenso e mais natural.

Vamos abrir parênteses para tocar em um assunto importante: o apoio paterno, que se na maior parte dos trabalhos se mostra importante para o estímulo ao aleitamento materno exclusivo (apesar da ridícula licença-paternidade de 5 dias), aqui se torna imprescindível para todos.

Essa participação poderia fazer toda a diferença se fosse mais estimulada permitindo que, pelo menos por um ou dois meses, o pai pudesse estar presente, favorecendo esse momento de transição inicial.

Mesmo assim, tenho observado um grande aumento do interesse dos pais na participação e no engajamento nesse processo, o que pode fazer com que, em algum tempo, essa importância seja respeitada e favorecida.

Assim, desde ajudar a mãe a se posicionar, trazer os bebês para serem amamentados, trocar as fraldas e colocar para dormir, até os cuidados com o ambiente e com as outras atividades da casa, o pai é figura incluída nesse processo, inclusive durante as madrugadas.

 Local
O local para mamar tem que ser tranquilo, acolhedor e dar condições para que a mãe esteja confortável, com apoio para as suas costas e os dois braços. Uma poltrona com braços pode ser uma boa solução, com apoio para os pés (para não prejudicar a circulação das pernas).
 

Um de cada vez ou os dois ao mesmo tempo?
Cada caso é um caso e precisa ser analisado individualmente, ou, nesse caso, em dupla. Respeitar as necessidades das crianças passa a ser um dos pontos centrais, até que se estabeleça uma rotina (e acreditem, mais cedo ou mais tarde, a rotina se estabelece).

Muitas mães (acho até que a maioria) preferem amamentar os dois ao mesmo tempo (afinal Deus deu dois seios às mães e facilitou essa função). Essa prática favoreceria a distribuição do tempo do dia, a produção do leite materno, o sono simultâneo dos bebês, a rotina e a dinâmica da casa.

Porém, há situações em que os bebês têm ritmos diferentes e, pelo menos no início, não sincronizam seus horários. Nesse caso, é mais importante ainda a ajuda para que essa mãe consiga, no intervalo picado que sobra durante o dia, descansar e ter suas outras atividades (comer, tomar banho, suas necessidades fisiológicas).

 Um ou os dois seios por mamada?
Cada bebê vai mamar um seio por mamada. Isso costuma ser suficiente. Assim, cada bebê poderá mamar o leite do início, mais rico em água, proteínas e carboidratos e o do fim, rico em gordura (para saciar a crescer).

É interessante que a cada mamada se troque o seio oferecido a cada criança. Assim, cada bebê mamará dos dois seios. Isso poderá ajudar no desenvolvimento da musculatura orofacial e na adequação das mamadas, com oferta de leites que podem ser até um pouco diferentes em sua composição.

 A pega e aposição
Um ou dois bebês mamando podem sempre apresentar o mesmo problema: a pega adequada. Ela deve ser na aréola, não no mamilo. Lábios evertidos (para fora), ocupando pelo menos 70% da área da aréola. Se os bebês não são colocados exatamente ao mesmo tempo, comece pelo bebê que está mais adaptado na pega. Sugando uma mama haverá o estímulo da outra que pode até começar a pingar, até favorecendo a sucção do outro bebê.

Acomodar a posição dos dois bebês mamando ao mesmo tempo pode ser um grande desafio, mas, segundo relatos de algumas mães, chega a ser divertido (se encarado com bom humor). Difícil, trabalhoso, mas absolutamente possível.

Mãe sentada confortavelmente, almofadas (nas costas), travesseiros (nos braços) e apoio (nos pés) e o cenário está pronto. Aí é só trazer os “artistas”.

Posição tradicional: bebê com a cabecinha no braço da mãe e o corpinho voltado para o corpo da mãe;

Posição invertida: bebê com a cabecinha voltada para o seio da mãe e o corpinho embaixo dos braços dela;

Posição sentada: bebê mamando de frente para a mãe, “cavalgando a perna da mãe”.

Assim, cada mãe pode adequar a posição de seus dois bebês da forma mais cômoda e confortável, variando essas 3 principais entre eles, por exemplo, com os dois em posição invertida (um em cada mama), ou os dois sentadinhos, ou um em posição tradicional e o outro em posição invertida.
Parece complicado (e no começo até pode ser), mas com o tempo tudo pode se ajeitar, antes do que se imagina.

Tempo e quantidade
Costumamos dizer frases como “a natureza é sábia”, “nada é por acaso”, “Deus escreve certo por linhas tortas”, “Deus sabe o que faz”. Muitas vezes, isso ajuda e em outras nem tanto.
A produção de leite aumenta conforme o estímulo da sucção dos bebês é maior. Assim, a orientação continua sendo a de aleitamento materno exclusivo, em livre-demanda, pelo tempo que cada bebê quiser mamar.

Concluindo
Amamentar é natural, mas nem sempre é fácil. Há que se querer. Há que se entender a importância, apesar das dificuldades. Há que se entregar, apesar do cansaço que pode aparecer, dos obstáculos culturais, sociais e até pessoais. E em caso de gêmeos, essas questões se multiplicam (em dois, ou três ou mais).
  • É fundamental que a mãe conte com apoio.
  • Apoio da equipe de saúde, esclarecendo, estimulando, apoiando a mãe sempre que necessário.
  • Apoio da família (pai, avós, tios e tias, irmãos), compreendendo, estimulando, cooperando sempre que necessário.
  • Apoio da sociedade, da mídia, dos órgãos governamentais, para que o aleitamento materno, que é o mais adequado para qualquer número de crianças, possa ser favorecido, estimulado.
  • Apesar de todo o esforço, em algumas situações o processo não evolui como todos esperam. Há outras possibilidades, há outras tentativas e os profissionais de saúde devem estar disponíveis e atentos às necessidades da mãe, dos bebês e da família.

 
Fonte:
Organizado por Caroline Scheuer
Escrito por Dr. Moises Chencinski
http://www.doutormoises.com.br/

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